De mim já nem se lembra
Encontro com o autor Luiz Ruffato
Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 21 de maio de 2017.
O renomado escritor Luiz Ruffato esteve na Feira do Livro do Colégio Miguel de Cervantes para um bate-papo com os alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio e visitantes do evento. Acompanhado do professor de Estudos Linguísticos e Literários Fabio Brazolin, o autor foi respondendo às dúvidas dos alunos sobre a obra e sobre suas opiniões a respeito de política, comparações dos dias de hoje com a época da ditadura militar e sobre o papel dos sindicatos e movimentos populares.
O escritor começou a palestra agradecendo o convite para falar do livro, que, segundo ele, é um dos seus preferidos, e elogiou o trabalho desenvolvido pelo Colégio na Feira do Livro. “Esse tipo de trabalho feito aqui, uma tentativa de propor reflexões para os jovens, é o que necessitamos muito nos dias de hoje. Espero que essas reflexões possam fazer parte de um movimento no sentido de pensar sobre o que nós queremos para esse país”.
Sobre a inspiração para escrever o livro, o autor disse que em princípio sua ideia era escrever sobre o período da ditadura militar no Brasil, sob a perspectiva da classe média baixa. “Um tema que eu acho pouco tratado na literatura brasileira é a questão da ditadura militar. Atualmente, aparecem alguns livros com aspectos óbvios, como a tortura, movimento sindical e político etc., mas pouco se fala como a ditadura era encarada e vivenciada na população de classe média baixa, que é o meu ambiente ficcional. Com base nessa ideia, eu comecei a construir o que queria da minha história, tomei como ponto de partida a morte da minha mãe e sobre o que isso representou para mim. Dessa forma, o que me motivou primeiro foi fazer uma história sobre ditadura. Em meu ponto de vista como leitor, porém, o livro não é sobre ditadura, mas sobre um monte de coisa, inclusive ditadura”, comenta Ruffato.
O autor também acentuou a pluralidade de interpretações a respeito de uma obra literária, usando como exemplo a obra discutida. “A boa literatura não tem uma mão única. Cada leitor vai ter uma opinião diferente sobre o mesmo livro. Uma pessoa, por exemplo, em determinado momento da vida, vai se sentir mais tocada pelas cartas ou pela mãe que morreu. Para ela, o livro vai ser sobre o resgate da relação entre mãe e filho, e está certa tal leitura. Essa pessoa nem vai ver ditadura no livro. Já outra pessoa vai ver a questão do machismo e outra vai perceber mais a luta sindical. Ou seja, cada leitor é um leitor”, explica Ruffato.
Ruffato comentou ainda sobre a construção das personagens baseada na classe média baixa, que segundo ele não aparece na literatura brasileira. Ele explicou que perseguiu durante anos o ideal de abordar essa classe em seus romances, o que se tornou uma característica contundente em suas obras.