Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 18 de maio de 2018.
O escritor Milton Hatoum iniciou a palestra proferida na Feira do Livro, em 17 de maio, agradecendo o convite e parabenizando alunos e professores pela apresentação musical em homenagem aos 40 anos do Colégio*. A atuação foi iniciativa dos Departamentos de Literatura e Música e consistiu em uma demonstração da trajetória musical das últimas quatro décadas e um paralelo sobre a vida social brasileira. “A música muitas vezes nos transporta para outras searas, mas a literatura também é música, pois também há ritmo e melodia na linguagem”, compara Hatoum.
O escritor explicou aos alunos que em A noite da espera suas memórias foram transfiguradas e que as únicas características da personagem principal – Martim – inspiradas em fatos reais são a solidão de Brasília e o colégio onde ele estudou. O autor disse que quando começou a pensar o romance, ele acreditou que ainda não era o momento de escrever. “A Literatura exige paciência, obstinação e até uma entrega passional dos dois lados, do escritor e do leitor. A Literatura é, das artes, uma forma de conhecimento: conhecimento profundo de nós mesmos, do mundo, da nossa realidade, da nossa história, do tempo em que vivemos, embora seja quase sempre um mergulho no passado, uma recuperação do passado através da memória e da imaginação”, afirma Hatoum.
O autor também falou que a opção de fazer do romance uma trilogia foi calculada, pois ele foi concebido como um romance de formação que, se externado em um só, volume ultrapassaria 800 páginas. “Eu achei uma loucura publicar um livro tão grande nesses tempos de internet, de dispersão e de distração. E por isso decidi dividir em três partes, que podem ser lidas separadamente, mas que eu aconselho serem lidas na sequência”, explica Milton.
Milton relatou que o romance coincide com sua ida a Brasília com 15 anos, momento em que ele queria expandir seus horizontes. Ele afirma que Brasília proporcionou sua sólida formação acadêmica. Lá ele conviveu com diversos jovens de culturas e classes sociais diferentes. Ele conta que a ideia na história foi problematizar a convivência desse grupo, com ampla diversidade cultural, em um regime opressivo, bruto e impiedoso, que foi a ditadura.
Na sequência, Milton respondeu às perguntas dos alunos, que discorreram sobre o momento atual político e social, ditadura, arte, literatura, educação, igualdade social e democracia. Ao final, Milton falou a respeito de suas memórias e sobre o quanto a supressão da liberdade marcou a juventude da época. “Eu tentei, e não seria nem honesto comigo, não escrever um romance ideológico, mas eu não poderia tomar partido da ditadura, porque não seria ético. Acho que a ideologia é um problema no romance e na arte, mas a ética é um pressuposto fundamental”, concluiu Milton.
*Veja a matéria sobre a abertura da Feira em: https://www.cmc.com.br/feiradolivro2018/conteudos/feira-do-livro-17-de-maio/