Maicon Tenfen, autor do livro Quissama: o Império dos Capoeiras, esteve na Feira do Livro no dia 18 de maio. Além do encontro com os alunos de 8º e 9º anos e uma homenagem do grupo de capoeira Kazuá Cultural, o simpático catarinense concedeu uma entrevista para a revista Cervantes Informa.
Cervantes Informa: Como você vê o mercado editorial no Brasil, o movimento de novos escritores e dos leitores brasileiros?
Maicon Tenfen: Estamos passando por um momento bastante singular, por causa da popularização do hábito da leitura também pela internet. Antigamente, o leitor era um ser muito solitário, que normalmente gostava de livros e ficava ali pelos cantos, sem ter com quem conversar. Hoje, por meio da internet e desde o surgimento dos primeiros fóruns, blogs etc., existe uma grande comunidade, principalmente de gente jovem, que tem a possibilidade de compartilhar as suas experiências de leitura. Isso não existia antes e cria um movimento muito interessante. Nesse cenário é que entra, por exemplo, a gente fazer uma trilogia pensando em nossa própria cultura, nossa própria história. Há muita coisa que vem dos Estados Unidos e da Inglaterra em termos de literatura traduzida. Alguns livros são muito bons, outros nem tanto, mas vale a pena trazer esse formato para aquilo que a gente tem.
CI- Você acredita que a publicidade que vem da internet, por intermédio dessas comunidades, motiva os jovens a lerem mais?
MT – Eu acredito que sim. A resenha do booktuber, mesmo que às vezes amadora, por ter uma característica própria, pela espontaneidade e liberdade, cria uma identificação com o jovem. Sendo assim, pode gerar interesse pela leitura.
CI – Como professor, qual sua opinião na adoção das obras recomendadas, clássicas e obrigatórias na formação do leitor e no estímulo ao gosto pela leitura?
MT – Sou professor de Língua Portuguesa há 21 anos. Além disso, há 16 leciono também na universidade, na disciplina de Literatura Brasileira (portanto, uma área que se ocupa do clássico). Já participei de muitas palestras com estudantes, professores e essa pergunta sempre aparece. Como nós vamos apresentar a leitura aos nossos alunos, a partir do que e a partir de onde? A melhor resposta que eu já ouvi foi do Italo Calvino, em um livro chamado Porque Ler os Clássicos. Nele, Calvino diz que a gente tem que ler os contemporâneos para entender os antigos e os antigos para entender os contemporâneos, assim como os estrangeiros para entender os nacionais e os nacionais para entender os estrangeiros. Eu acho que escola deve fazer uma mescla, deve ter leituras obrigatórias e ao mesmo tempo outros programas de incentivo à leitura, sempre de forma comparativa. Se pegarmos só o que é do momento a gente corre em um pleonasmo, pois a mídia já faz esse trabalho. Por outro lado, se ficarmos só no clássico, isso também pode cansar, porque os jovens não têm a mesma disposição que os adultos têm para encarar os textos mais antigos. Eu acho que sempre deve haver uma permuta, uma troca entre clássicos e contemporâneos, estrangeiros e nacionais. Assim, a meu ver, temos um aproveitamento muito maior.