Professora destaca a importância de abordar os direitos das mulheres
Entrevista com Maria Terezinha sobre Carmen de Burgos
Por: Eduarda Vieitas Soares da Silva|18 de outubro de 2017.
A professora de geografia do Ensino Médio do Colégio Miguel de Cervantes, Maria Terezinha Lopes, com bacharelado e licenciatura em geografia pela USP, foi entrevistada por mim no dia 6 de outubro para abordarmos o trabalho coordenando na Hispanidad intitulado O papel da mulher na sociedade segundo a perspectiva de Carmen de Burgos. Nessa entrevista, a professora enxerga tal escritora do século XX principalmente como uma defensora dos direitos humanos.
[Eduarda]: O tema que você vai orientar na Hispanidad é sobre uma das primeiras feministas espanholas. Qual é a importância de abordar esse tema na sociedade atual, que por um lado possui um movimento feminista bem consolidado, mas por outro apresenta setores que o menosprezam ou repudiam?
[Maria Terezinha]: Eu acho que é exatamente por isso que é importante a gente pensar que uma mulher teve coragem, naquela época, de levantar as bandeiras que ela levantou, que foram coisas que a gente precisa continuar defendendo. Ou seja, isso são coisas não resolvidas. Então, se ela naquela época teve a coragem que teve, muito mais temos nós mulheres, que nos dias de hoje, mesmo que a situação ainda seja difícil, temos mais facilidade, porque há mais gente defendendo tal causa. E não só a questão das mulheres, mas a questão dos direitos dos indivíduos.
[Eduarda]: Ao observar as reações contrárias ao voto da mulher, Carmen de Burgos percebeu que a sociedade espanhola ainda era extremamente conservadora e que precisava de uma reforma na educação, principalmente por meio da ampliação do acesso que a mulher tinha a ela. Atualmente, a sociedade brasileira age de maneira extremamente conservadora em relação à liberdade da mulher, restringindo, por exemplo, o direito delas ao aborto. Você acredita que é preciso inserir temas desse tipo na educação brasileira?
[Maria Terezinha]: A sua pergunta é longa, mas tem duas coisas que me chamam a atenção. Uma é a questão do aborto, que, independente de eu ser a favor ou ser contra, eu acho que a mulher deve ter o direito. Ou seja, isso é uma coisa que eu entendo que deva ser discutida. Mas, acima de tudo, eu entendo que a decisão de se o aborto deve ser legal ou ilegal deve ser uma decisão das mulheres, porque homem não faz aborto. Então, essa é a primeira contradição que eu entendo, então eu acho que tem que ser muito discutido. Do ponto de vista da educação, eu acho que tem muito a se fazer, e não é só em relação às mulheres. Mas, por outro lado, o censo do IBGE de 2010 aponta que o Brasil está ficando cor-de-rosa, uma analogia à cor associada à mulher, porque as mulheres estão ganhando espaço, as mulheres estão ocupando espaço, e alguns homens estão perdendo. Não digo nem que seja uma questão de luta de mulheres contra homens, até porque isso também não me agrada, porque eu acho que para a gente ganhar direito nós não precisamos tirar do outro, pisar em cima do outro. Mas as mulheres têm estado mais interessadas no seu desenvolvimento profissional do que homens. Então, em alguns índices escolares, as mulheres estão superando os homens, é estatístico. Mas, do ponto de vista de direito, as coisas estão muito complicadas porque, por exemplo, na hora que o filho fica doente, quem falta ao trabalho normalmente é a mulher, não o homem. Então há algumas empresas que preferem contratar homens às mulheres. Por outro lado, as mulheres são vistas como mais responsáveis, então nas ações de governo de habitação popular, a moradia fica na casa da mulher, e não do homem. Exatamente por conta das mulheres estarem se mostrando de certa forma mais responsáveis, digamos assim.
[Eduarda]: Na Hispanidad desse ano surgiram muitos temas que abordam o feminismo, como Qual era o papel da mulher na Edad de Plata?, Isabel Torres Salas, O movimento Mulheres Livres e o anarco-feminismo, Residencia de señoritas, e o do seu grupo. Você acha que a abundância desses temas ocorreu devido a uma nova forma de pensar dos alunos do Colégio Miguel de Cervantes ou da instituição em si?
[Maria Terezinha]: Eu não acho que os alunos não tenham essa preocupação, nem que a escola não tenha, mas os temas acabam sendo definição dos professores. São os professores que buscam cada um dos seus temas dentro do grande tema. Desde que eu vejo a Hispanidad, sempre há temas relacionados à mulher. Ou seja, sempre existem algumas pessoas preocupadas ou empenhadas, ou sensíveis, a essa questão. Agora eu acho que é um tema a ser tratado, acredito nisso, como pessoa de ciências sociais que sou, também por ser mulher. Assim, eu acho que é um tema significativo. Então, para mim, foi fruto da pesquisa que eu fui fazendo. Eu não conhecia essa senhora, só descobri na hora em que fui pesquisar o tema, e achei que naquela época aquela mulher levantou bandeiras: a bandeira da criança, do voto, da mulher e dos judeus também. Por isso, eu vi essa mulher como uma defensora dos direitos humanos. Eu pensei: “Preciso conhecer e precisamos conhecer essa mulher”. Mas eu não acho que os alunos estejam distantes dessa que é uma realidade do Brasil e do mundo. Embora haja resistência, a coisa tem que ser discutida, tem que ser mostrada, e tem que ser batalhada. Eu acredito nisso.