Fábio Brazolin Abdulmassih, professor de literatura do primeiro ano do Ensino Médio, fala sobre seu tema no Congresso da Hispanidad
Entrevistado fala sobre, Educar a la clase trabajadora de una manera racionalista, secular y no coercitiva – La Escuela Moderna en la Edad de Plata
Por: João Victor Santos Moreira | 18 de outubro de 2017.
Entrevistei o professor e mestre em Literatura Russa Fábio Brazolin Abdulmassih para abordarmos seu tema na Hispanidad: Educar a la clase trabajadora de una manera racionalista, secular y no coercitiva – La Escuela Moderna en la Edad de Plata.
João Victor – Em tempos de Escola sem Partido, qual a importância das ideias da Escola Moderna para o ensino brasileiro?
Fábio Brazolin – Eu acho que a maior importância é mostrar que a educação realmente não deve se vincular não só a partidos, mas também a ideologias, porque o Escola sem Partido, embora tenha esse nome, é extremamente ideológico, ao passo que na Escola Moderna a proposta de Ferrer (criador da Escola Moderna) era justamente tratar do conhecimento como algo que vale por si, independente de motivações partidárias, ideológicas e religiosas.
J.V – O que mudaria na estrutura da classe trabalhadora essa nova forma de ensino?
F.B – Primeiro de tudo, que o trabalhador, ao se ver confrontado com essa forma de pensar a educação, teria mais consciência de sua condição e força, porque uma das coisas que a Escola Moderna previa era que o trabalho fosse cooperativo, e não competitivo. A sociedade capitalista, a gente sabe disso, se baseia na competição de todos contra todos, que só favorece quem está no topo da cadeia. Então, eu acho que, não só para classe trabalhadora, mas para todos aqueles que buscam um mundo de maior justiça, mesmo os capitalistas que buscam uma maior justiça social, a Escola Moderna contribuiria para esse objetivo, para oferecer essa autoconsciência de que o trabalho coletivo é enriquecedor, que não precisamos viver em um mundo onde a competição seja o motor do funcionamento.
J.V – O sindicato teria alguma importância nesse trabalho de ensino?
F.B – No trabalho da Escola Moderna em si, não, mas eu acredito que a ideia de um sindicato, partindo do pressuposto que o sindicato é um coletivo de trabalhadores, poderia enriquecer a Escola Moderna e, talvez, recuperasse nos sindicatos a força que eles tiveram do começo do século XX até metade desse século. No Brasil, essa força permaneceu até um pouco depois e foi, aos poucos, se perdendo. Eles perderam o rumo, na verdade, dos anos 70 para cá, no mundo inteiro. Por isso eu acho que essas experiências que a Escola Moderna motiva e oferece talvez contribuíssem para a recuperação do sentido do sindicato.
J.V – Existe alguma escola brasileira, contemporânea, que se assemelhe às ideias da Escola Moderna?
F.B – Existem as escolas democráticas, não só no Brasil, mas em outros países. Há a Escola da Ponte, em Portugal, e muitas escolas brasileiras se inspiram em suas ideias, as quais têm práticas e algumas filosofias que se assemelham às da Escola Moderna, porém ela (Escola Moderna) foi um fenômeno muito específico de uma época e de uma região. Existiam muitas condições ali (naquela época e na região) que favoreciam o florescimento dessas ideias. Eu não acredito que seria possível, hoje, construir uma Escola Moderna, exatamente do jeito que o Ferrer previa, mas, ao mesmo tempo, acho que é possível aproveitar muitas das boas ideias que ela oferecia, até porque ela não era perfeita, para incrementar a vida escolar, e a instituição escola. Para responder a sua pergunta: não, não há nenhuma Escola Moderna, mas existem escolas que se inspiram em sua filosofia.