SALA DOS PROFESSORES

Outra forma de ver a vida

Por: Patrícia Varela González | abril de 2021

A frase que dá título a este texto foi escolhida por um de nossos alunos para definir Síndrome de Down. Tal afirmação tem um grande significado e representa muito para todos nós que, como eu, acreditamos na importância da inclusão e no respeito às diferenças. Além disso, reflete a evolução de diferentes valores relacionados a uma visão de mundo aberta, na qual todos têm um lugar.

Mas o que é inclusão? O dicionário da Real Academia Espanhola  define como uma conexão ou amizade de alguém com outra pessoa. Mas até que ponto essa definição se aplica à nossa realidade? Vivemos em uma sociedade na qual, em geral, tende-se a isolar e ignorar o diferente, o que não atende aos cânones pré-estabelecidos. Muitas vezes pode ser o medo do desconhecido ou mesmo a ignorância o que nos afasta de tal realidade. Romper essa barreira está nas nossas mãos, na nossa forma de ver o que ainda não sabemos, sem preconceitos ou conceitos criados de antemão. Por isso, a informação e a normalização são tão importantes, até porque conviver com a diversidade é a forma de ampliar nossos horizontes e normalizar as diferenças. Essa necessidade de mudar a perspectiva a partir da qual enfocamos o que nos rodeia motivou a criação de um projeto cujo principal objetivo é conscientizar nossos alunos de que é normal ser diferente.

Nesse caso, o tema trabalhado foi a trissomia 21 ou síndrome de Down. Nossos alunos tiveram a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a síndrome, como ela se origina e como se caracteriza. Mas, acima de tudo, eles puderam conviver com pessoas com quem têm mais coisas em comum do que imaginavam. O projeto está dividido em diferentes etapas, por meio das quais as informações são acessadas em diferentes níveis. Em um primeiro momento, trabalham por meio da pesquisa, e os dados obtidos permitem que conheçam uma realidade a que nem sempre temos acesso, tanto na perspectiva da inclusão quanto na visão de quem tem a trissomia do 21 ou convive com ela.

Conhecendo suas características e realidades, eles entram em contato direto com alguns alunos da ONG Unidown, para quem dou aulas de espanhol. Essa convivência, que se deu em diferentes encontros, proporcionou-lhes uma experiência que, embora não seja presencial, sempre carregará na retina. Se tivesse que escolher um adjetivo para definir a evolução desse trabalho, escolheria “surpreendente”.

É surpreendente e gratificante ver como as diferenças, dada a oportunidade, podem nos aproximar mais do que nunca. Durante os encontros entre os alunos, foram desenvolvidas diferentes atividades interativas, de jogos a coreografias, todas elaboradas por alunos de nossa escola e por alunos da ONG. Além disso, tiveram a oportunidade de se dividir em grupos menores para tentar se conhecer um pouco melhor e fazer esse contato fluir da forma mais natural possível. Por fim, os dois grupos fizeram um trabalho conjunto que consistiu na produção de um vídeo por ocasião do Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado no dia 21 de março. Nesse vídeo, cada um teve a oportunidade de definir com suas próprias palavras o que é síndrome de Down, mas, acima de tudo, puderam expressar um sentimento que só pode emergir se colocarmos nossos preconceitos de lado e começarmos a olhar o mundo de forma diferente, com os olhos da inclusão e do amor.



Patricia Varela González – Formada em Letras – Universidad de La Coruña (Espanha), Máster em Ensino de Espanhol como Língua Estrangeira (Universidad de Alcalá de Henares), especialista em Bilinguismo e Multilinguismo (Instituto Singularidades). MBA em Gestão Escolar (Universidade de São Paulo). Professora de Espanhol Língua B – Bachillerato Internacional (IB) no colégio Miguel de Cervantes. Professora do Instituto Cervantes de São Paulo. Voluntária do Instituto Unidown.