Qual o significado de Empatia?
Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 06 de maio de 2016.
O portal virtual significados.com, em sua definição de empatia, a descreve como “a capacidade para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais. ”
Foi com base nesses princípios que, no início deste ano, nas aulas de tutoria do 3º ano do Ensino Médio, os professores, por meio de uma atividade sobre debate, propuseram uma reflexão sobre o tema empatia. “Nós havíamos feito uma atividade em sala com o objetivo de explicar a vivência e o funcionamento de um debate, e esse exercício provocou uma discussão sobre o respeito em relação a opiniões divergentes. Nesse momento, começamos a conversar com os alunos sobre conceitos de empatia, simpatia, antipatia e apatia, ” explica o professor Orientador Educacional do Ensino Médio, João Jonas Veiga Sobral.
Foi então que um grupo de alunos do 3º ano Ensino Médio, durante os meses de março e abril, tomou a iniciativa de promover, em parceria com a coordenação pedagógica e educacional, um mutirão batizado por eles de “Mutirão da Empatia”.
Sensibilizados e incomodados pelas mensagens, segundos eles, preconceituosas e ofensivas deixadas por alguns alunos nas carteiras e cadeiras das salas do Ensino Médio, o grupo resolveu dar um basta nessa ação e, com a colaboração da Equipe de Orientação, iniciou um projeto de debate, conscientização e ação.
Segundo João, o disparador do projeto partiu dos alunos Beatriz Cury de Souza Lima, do 3º A, e Enzo Gonzalez de Marchi, do 3º B, que levaram à coordenação uma cadeira da sala em que estavam escritas ofensas a uma colega de sala. Os alunos pediram ajuda ao coordenador para iniciar um projeto que impactasse os alunos autores das afrontas. Com a participação efetiva dos colegas Stefano Fakhouri Moretti, do 2º C, e Isabella Pérez Orta, do 3º B, o comitê iniciou uma verdadeira empreitada de conscientização e cidadania.
Para eles, não se tratava mais da escola ou da coordenação intervir, uma vez que, segundo eles, a escola já sanciona esse tipo de atitude. Assim, concluíram que estava na hora deles, enquanto estudantes, mobilizarem os colegas e propor uma reflexão sobre a sujeira das carteiras, ratificando que já não se tratava mais apenas da sujeira. O que os incomodava eram o aviltamento, o desrespeito e o discurso de ódio e intolerância sobre orientações sexuais, ideologias políticas, tipo de corpo e outras questões.
Para os alunos e para Orientação, o simples rabiscar de carteira, tão comum a partir do 1º ano do Ensino Médio, deixou de ser uma ação inconsciente ou desinteressada para se tornar algo cruel e covarde, onde as pessoas expressam insultos anonimamente.
Foi por meio dessa premissa que propuseram um mutirão para limpar as carteiras e cadeiras das salas de aula e solicitaram à direção do Colégio produtos de limpeza e luvas. Na primeira etapa da ação, os alunos foram, a convite da Orientação Educacional, a todas as salas conversar com os colegas, explicar as razões do procedimento e fazer o convite para o mutirão.
Abordados várias vezes pelos colegas que, em princípio, não ficaram muito motivados em limpar as carteiras depois do horário de aula, o grupo explicou que a ação, apesar de concreta, está muito mais relacionada ao simbólico. “Queremos que todos percebam que a limpeza vem também de dentro para fora, parte de uma conscientização. Queremos mostrar que essa atitude está errada”.
Fotos: Silvio Luiz Canella
O Mutirão
Limpar é preciso…
Em encontros sistematicamente organizados após as aulas de quarta-feira, os alunos, munidos de produtos de limpeza, se organizam e esfregam as mensagens deixadas nas carteiras. O trabalho é difícil, pesado, muitas das mensagens não saem, mas eles não desistem.
Enquanto convidavam os colegas, um aluno sugeriu que eles pedissem novas carteiras em vez de limpá-las. A resposta foi: “não se trata de mudar as carteiras, e sim mudar a conduta e a postura de usá-las como um mural de insultos e fofoca. Além disso, não devemos solicitar ao Colégio que troque um material que nós sujamos. Sentimos na pele quanta força física é necessária para limpar debaixo da carteira. É horrível deixarmos as pessoas da manutenção limpando a sujeira desnecessária que produzimos”. O grupo tem em vista que o foco do projeto é reeducar as pessoas.
Após a limpeza, carteira por carteira, cadeira por cadeira, os quase 40 alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio que aderiram ao mutirão colam na porta da sala limpa um selo, com um logo desenvolvido por eles, estampando as palavras de ordem: Esta sala está limpa!
O Legado
Diga-me com quem andas…
O grupo me explicou que escrever embaixo das carteiras é quase uma tradição. Ninguém sabe bem como e quando começou. Em certo momento, já nem percebiam mais as escritas, os desenhos, as letras de música etc.
Quando chegam ao 1º ano e se deparam com as carteiras do Ensino Médio e com as salas-ambiente, experimentam uma sensação de liberdade. As carteiras já não pertencem mais a uma ou outra turma. Elas são usadas por vários alunos de todos os anos e, assim, o que era mais privado e determinado (o lugar onde se sentar) passa a ser público.
A Orientação Pedagógica e Educacional reforça que a educação para o convívio e para o respeito aos acordos coletivos é um exercício fundamental de cidadania e de valores, uma vez que a ética se dá nas relações pessoais e no estabelecimento de atitudes que visem ao bem-estar público.
Eles afirmam que, nesse momento, é comum os alunos que nunca escreveram na carteira apresentarem esse comportamento. “Eles chegam, veem tudo rabiscado e imaginam que isso é aceitável, mesmo com a coordenação e os professores informando e educando. Sabemos que o papel de nossa escola é formar pessoas íntegras, e sabemos que a atitude de propagar mensagens que agridem outras pessoas não tem nada a ver com a educação que recebemos aqui. Quando chegamos ao 3º ano, percebemos que o Colégio cumpriu seu papel de nos formar como pessoas e, por isso, esse comportamento nos causa indignação”.
Segundo os alunos, para alcançar o objetivo, é fundamental plantar uma semente no intuito de que os próximos alunos deem continuidade ao projeto. “Pretendemos conversar com os alunos do 9º ano e explicar sobre nossa experiência. Acreditamos que o mutirão será um exemplo que não precisará ser seguido porque não haverá mais motivo para ele existir”, contam os alunos.
Para o grupo, é importante que o cerne das reflexões dos alunos em relação ao preconceito, à homofobia, à gordofobia, ao machismo e a outras discussões esteja sempre presente e que todos possam expressar suas opiniões, desde que fundamentalmente se coloque em prática o respeito, a tolerância e, acima de tudo, a empatia.
Entre as muitas atividades propostas pelo comitê e pela Orientação, estão as visitas ao 9º ano, além de atividades de interação e debate entre todos os anos de Ensino Médio sobre temas relacionados ao preconceito, oficina artística de expressão, entre outras, conforme propõem os eixos de trabalho das aulas de tutoria.