SALA DOS PROFESSORES
O valor pedagógico das ferramentas tecnológicas
Por: Prof.ª Karin Cruz Lopes Arriagada e Prof. William Gerson da Rosa
Como ter a certeza de que nossos filhos e filhas estão fazendo um bom uso dos recursos ofertados? Podemos permitir que eles usem livremente o celular? Qual a melhor idade para liberar a navegação deles na internet? Quantas horas por dia é o mais recomendável diante da touch screen? Quais softwares/aplicativos são mais seguros? Muito se tem discutido sobre a melhor forma de educar essa geração em relação aos recursos tecnológicos disponíveis e, claro, cada vez mais surgem estudos envolvendo esse assunto, a fim de nortear um pouco os possíveis caminhos.
É comum nos basearmos em como fomos educados para educá-los, reproduzindo o que gostamos ou modificando aquilo com que não concordamos. No entanto, apesar da sensação de que há tempo convivemos com essa gama de alternativas tecnológicas, muitas foram popularizadas a partir dos anos 1990. A internet, por exemplo, teve sua origem em um projeto desenvolvido nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, mas alastrou-se a partir de 1992 quando, após o fim da Guerra, estudantes universitários se empenharam em aperfeiçoar a rede.
Nós tivemos que aprender e transformar a nossa forma de pensar em tempo real à medida que as invenções eram lançadas. No entanto, precisamos refletir o quanto é diferente o mundo em que nossos filhos nasceram. Muitas vezes esperamos que eles tenham posturas e reflexões semelhantes às que tínhamos quando crianças — “quando eu era criança, brincava na rua”, “na minha época de criança, eu conversava pessoalmente com meus amigos”—, mas quando éramos crianças nosso mundo era diferente. Obviamente temos que comparar, analisar sempre, mas também temos que entender que o mundo mudou. Nascer nessa época, portanto, significa crescer com algumas características diferentes. Benéficas ou maléficas? Como essa é uma questão que dá margem a outra discussão, aqui somente nos deteremos a caracterizá-las como diferentes!
Podemos dizer, então, que crescer com essas características significa já nascer sabendo usar computador ou um celular, por exemplo? A resposta é NÃO!
Sabemos o quanto as crianças aprendem, ao longo do seu desenvolvimento, repetindo o que nos observam fazer. A comunicação exemplifica bem essa questão: a criança aprende a falar porque interage com o outro, ou seja, o contato vai ajudá-la a adquirir a linguagem. E com a ferramenta tecnológica não é diferente. Se uma criança nascer este ano e for completamente privada da tecnologia em parte de seu desenvolvimento, provavelmente percorrerá o mesmo caminho que percorremos. Sem entrar em detalhes, podemos citar a questão social e concluir que a relação entre ser jovem e, simultaneamente, possuir habilidades digitais não é trivial, mundial e nem uniforme. Nessa mesma linha de pensamento, Beltrán e García1 acreditam que os nativos digitais, mais que existir, sobrevivem, e nós como pais e educadores, devemos ajudá-los.
Entendemos que essa ajuda se refere ao letramento digital, visto que a passividade diante da tela é muito prejudicial e pode gerar danos em todos os sentidos. Nesse contexto, muito além das habilidades motoras dos nativos digitais, devemos considerar um amplo conjunto de habilidades e competências relacionadas à capacidade de discernir criticamente frente às fontes de informações obtidas, à construção de um pensamento reflexivo, à compreensão dos valores éticos e cidadãos no relacionamento interpessoal e ao uso seguro das redes sociais.
Uma das dez competências gerais definidas pela Base Nacional Comum Curricular2 — documento de caráter normativo que determina o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica — já enfatiza a necessidade de compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Concomitante à Base, outro documento que norteia nossa ação pedagógica é o Currículo de Habilidades e Competências Digitais3, cujo objetivo é articular, reunir e guiar nossa prática por meio da transversalidade, em contextos interdisciplinares de aprendizagem.
Mesmo sabendo que ainda há um longo caminho a percorrer em prol da melhoria de nossas ações, fazer parte dos vinte estudos de caso selecionados pela UNESCO, a nível mundial, do projeto Melhores Práticas em Aprendizagem Móvel, nos entusiasma a permanecer rumo a nossa missão de formar pessoas felizes e responsáveis, com sólidos conhecimentos e valores, e que possam ser agentes de transformação social, em um mundo globalizado e multicultural4.
* Texto baseado na apresentação realizada na Reunião de Pais – 2º trimestre
1 BELTRÁN, S. L.; GARCÍA, J. P. Los nativos digitales no existen: Cómo educar a tus hijos para un mundo digital. Grupo Planeta, 2017.
2 BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em:
< http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf> Acesso em 24/setembro/2019
3 Documento produzido pela equipe de TE do Colégio , cuja elaboração obedeceu a três diretrizes metodológicas: o mapeamento do uso dos recursos tecnológicos na prática educacional do Colégio, a estruturação dessa prática em ordem sequencial e gradual, e o ajuste do desenvolvimento de tais habilidades e destrezas digitais por parte dos nossos alunos e alunas, de acordo com normas nacionais e internacionais.
4 <https://www.cmc.com.br/principal/missao/> Acesso em 26/setembro/2019