ENSINO MÉDIO
Debatendo a realidade – a delegação cervantina na SPMUN
Com uma delegação organizada pelo Clube de Debates, os alunos do Colégio Miguel de Cervantes tiveram a oportunidade de participar da SPMUN 2017 nos dias 3 a 7 de julho
Por: Murilo Dorión, aluno do 2ºC do Ensino Médio; com a colaboração dos alunos Eduarda Vieitas, Gabriel Battistuzzo e Guilherme Arashiro
Discutir o futuro da legislação digital, participar na luta internacional contra o apartheid, mudar o rumo da política indígena no mundo: essas são algumas das atividades simuladas na SPMUN –São Paulo Model United Nations. Na primeira semana de julho, onze alunos do Colégio Miguel de Cervantes reviveram o passado e construíram o futuro no evento que busca recriar reuniões diplomáticas para tratar de diversos assuntos atuais e históricos, com uma variedade de temas que abarca desde os refugiados na Europa até a questão dos manicômios no mundo. Nas reuniões, que ocuparam os cinco dias do evento, os “delegados” buscam representar fielmente o país que lhes foi assignado e avançar os objetivos e visões de sua delegação no assunto em questão, com o objetivo final de produzir uma resolução ao estilo das Nações Unidas.
A delegação do colégio foi organizada pelo Clube de Debates da escola, que vê o evento como uma extensão das atividades desenvolvidas pelo grupo às quartas-feiras, no colégio. Os alunos foram divididos entre representantes da Espanha e do Haiti e tiveram jornadas diversas em sua preparação para as reuniões.
Os representantes da Espanha contaram com uma aula introdutória dada pela professora Rocío Eiras, mas seus estudos não se limitaram à sala de aula. Os alunos, que sempre estiveram em contato com o ambiente e a cultura espanhola no colégio, tiveram uma oportunidade de conhecer a fundo as dinâmicas políticas e problemas de um país tão discutido na sala de aula. A diversidade de temas dos comitês do evento permitiu que novas perspectivas de problemas atuais e globais fossem estudadas de acordo com o interesse de cada aluno; como o caso do aluno Gabriel Battistuzzo, que, por seu interesse por cyber segurança, pôde familiarizar-se e discutir as propostas espanholas para o futuro desta área no comitê da União Internacional de Telecomunicações. O legado histórico do país, sempre polêmico, mas certamente importante, também foi tema de discussão – interessando os alunos Eduarda Vieitas e Guilherme Arashiro, que puderam representar a Espanha na controversa Conferência de Berlim e, dessa forma, tomar parte na partilha da África, que marcou a história do continente.
Os alunos representantes do Haiti se depararam com um país muito ignorado nas discussões cotidianas, porém com uma realidade complexa e problemática, mas nunca sem esperança. A situação e necessidades desse país, apesar de atraírem muita ajuda internacional, nunca são devidamente discutidas. No C34, o comitê especial para discussão das Operações de Paz da ONU, o aluno Murilo Dorión pôde apresentar um ponto de vista diferente na questão dos abusos cometidos pelos soldados de paz da organização – a nação, apesar de reconstruída graças a essas operações, ainda guarda cicatrizes da ação indevida dos soldados dessas forças armadas.
Dentro dos comitês, as discussões são sempre imprevisíveis, exigindo dos delegados um conhecimento abrangente sobre o tema e adaptabilidade às preocupações do grupo. Muitas vezes, o maior desafio é fazer com que uma questão central para seu país seja contemplada no debate, já que, assim como na vida real, muitas necessidades são ignoradas pela comunidade internacional. Além disso, durante o evento ocorrem as chamadas crises – um acontecimento, comunicado ou ameaça fictícia relacionada ao tema do comitê que requer uma ação imediata dos delegados. A UIT, por exemplo, teve que lidar com uma brecha de segurança na rede financeira internacional que causou quase 2000 suicídios enquanto os delegados não tomavam uma ação assertiva para recuperar o sistema. No comitê C34, soldados da ONU se rebelaram e sequestraram 14 médicos da Cruz Vermelha, pedindo anistia para soldados indiciados por estupro e o fim de operações de paz. Essas intervenções mudam o rumo da discussão, relembrando a todos que as palavras e atos dentro do comitê têm consequências nas vidas das pessoas. São momentos tensos, que podem levar a uma polarização do comitê ou a uma determinação maior para que todos trabalhem juntos – tudo depende de como os delegados agem.
A ação, como diz Hannah Arendt, é imprevisível e irreversível – no entanto, também é um novo começo, independente daquilo que a precedeu. Agir é começar algo novo, as bases de um mundo que surge – e, atuando dentro da simulação, os delegados se preparam para agir no mundo real. Apesar de serem comitês fictícios, com crises inventadas, muitas das propostas de resolução – o texto final, redatado pelos delegados como o resultado da reunião – são enviadas para os órgãos da ONU responsáveis, e as ideias muitas vezes levadas em conta nas discussões da organização. Nos comitês históricos, o passado é modificado – talvez para uma realidade melhor, talvez para uma realidade mais cruel –, mas com certeza a experiência instiga a curiosidade dos delegados e permite que reflitam para que os erros do passado não sejam repetidos.
Além de ser uma grande oportunidade acadêmica, o evento é uma verdadeira comunhão de colégios de diferentes lugares e realidades socioeconômicas do Brasil. Os dias de trabalho dentro do comitê muitas vezes criam tensões entre os participantes, mas elas são imediatamente esquecidas quando os delegados saem para o intervalo e criam amizades que, para o aluno Guilherme Arashiro, por exemplo, são uma oportunidade de sair da bolha da insegurança. Esses vínculos especiais criados pelas discussões e intervalos do evento ficam mais fortes pela cultura da “modelândia” que se criou, uma esfera que compartilha a experiência única que é a imersão e atmosfera das simulações. A paixão por esse tipo de evento é o motor do Clube de Debates, tendo levado o ex-aluno Victor Gonzales à posição de diretor de um dos comitês da SPMUN – buscando garantir a continuidade desse universo, no qual tomou parte enquanto estava no ensino médio. O aluno e diretor do Clube de Debates, Guilherme, completa: “Continuo com o objetivo de expandir [as simulações] pelo colégio, para que outros consigam sentir o que eu sinto toda vez que visto meu terno e debato para defender meu país”.**
Colégio Miguel de Cervantes no Fórum Faap
Por: Bruna Janikian e Fernanda Meirelles, alunas do 3º A do EM
“Caros delegados, os senhores nunca sairão do Fórum Faap do mesmo jeito que entraram”
Essa foi a frase proferida por Luiz Alberto de Souza Aranha Machado, diretor da Fundação Armando Alvares Penteado durante a abertura do XIII Fórum Faap de Discussão Estudantil para o Ensino Médio. Durante o feriado de Corpus Christi (14-17 de junho de 2017), 15 alunos do ensino médio do Colégio Miguel de Cervantes atenderam a discussões que simulavam as das Nações Unidas acerca de temas de escala mundial. Dois desses alunos, entretanto, atenderam às posições de jornalistas, os quais eram encarregados de cobrir as discussões feitas para um jornal impresso.
Como previamente decidido pela Faap, cada escola envolvida representava alguns países em diversos comitês. O Colégio Miguel de Cervantes honradamente representou os países Cuba, Croácia, Eritréia e Haiti. A escola atuou em diversos comitês, com destaque central ao da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) e à Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao decorrer dos dias, os delegados eram encarregados de discutir acerca de crises possivelmente criadas em seus comitês ou então de cobrir as discussões sobre estas crises (no caso dos jornalistas).
Todos os temas apresentados aos alunos durante o evento eram de cunho político e social. Assim, todos os delegados tiveram a oportunidade de aprofundar seu aprendizado em temas que os formarão como bons futuros cidadãos. A medida que o evento se desenrolou, os alunos passaram a ter uma maior visão de mundo, fazendo com que saíssem do feriado totalmente imersos e engajados em questões de âmbito mundial.
**A direção do Clube de Debates gostaria de parabenizar especialmente os alunos Gabriel Battistuzzo, Eduarda Vieitas, Guilherme Arashiro, João Pedro Pimentel e Murilo Dorión, que, por sua participação destacada dentro de seu comitê, receberam menções de seus diretores durante a cerimônia de encerramento. No entanto, a participação de todos merece reconhecimento pelo esforço e dedicação empregados por cada um em representar seu país ou organizar um comitê. Por isso, seguem abaixo os alunos e ex-alunos do Colégio Miguel de Cervantes que participaram do evento
- Carolina Corrêa representou o Reino da Espanha no C34, que discutiu as violações de direitos humanos dos Capacetes Azuis na República Centro Africana.
- Daniel Kenji representou a República do Haiti no CENUCA (1968), que discutiu as medidas a serem tomadas frente ao apartheid na África do Sul
- Eduarda Vieitas e Guilherme Arashiro representaram o Reino da Espanha na Conferência de Berlim (1884), que partilhou a África entre as potências coloniais europeias.
- Gabriel Furlaneto Battistuzzo representou o Reino da Espanha na União Internacional das Telecomunicações, que discutiu governança na internet, políticas cibernéticas internacionais e a ascensão de movimentos virtuais.
- João Pedro Pimentel representou o Reino da Espanha do Conselho Europeu, discutindo medidas de segurança na Europa para combater o terrorismo.
- Julia Pinna representou o reino da Espanha no DSI, discutindo o uso de armas autônomas ao redor do mundo.
- Maria Clara Bordignon representou o Reino da Espanha no SOCHUM, discutindo os direitos indígenas na América Latina.
- Murilo Dorión representou a República do Haiti no C34, que discutiu as violações de direitos humanos dos Capacetes Azuis na República Centro Africana.
- Pedro Fonseca representou o reino da Espanha no comitê Legal, discutindo a situação dos moradores de rua no mundo.
- Tábatha Raíssa representou o Reino da Espanha na UNICEF, que discutiu medidas para combater o trabalho infantil.
- Victor Gonzalez foi diretor assistente no CENUCA (1968), organizando e moderando a discussão sobre as medidas a serem tomadas frente ao apartheid na África.