1º Ato CMC e Gracinha
Alunos de teatro dos Colégios Miguel de Cervantes e Nossa Senhora das Graças se reúnem para intercâmbio de ideias e experiências
Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 5 de abril de 2016.
O programa 1º Ato CMC – Gracinha de Teatro nasceu da iniciativa dos professores Fábio Nogueira de Matos Martins (Colégio Miguel de Cervantes) e Rafael Masini (Colégio Nossa Senhora das Graças) em promover encontros nos quais os alunos pudessem aprender e trocar experiências a respeito de técnicas e abordagens desta tão contraditória e espetacular arte: o teatro. E não poderia ter dado mais certo, pois eles não só aprenderam nas oficinas e palestras oferecidas no programa como tiveram a oportunidade de se relacionarem e se conhecerem.
Segundo os professores, a ideia surgiu em um encontro casual. “Fábio e eu dividimos salas de aula e palcos no final dos anos 90. Entre aulas e apresentações, surgiu uma grande amizade e a vontade de usar a força do teatro na educação e formação de jovens pensantes. Hoje, trabalhando em escolas distantes, sentimos a necessidade de juntar nossos alunos, propostas e diferenças. E foi assim, tomando café com bomba de chocolate, que o 1º Ato tomou corpo e alma. O nome já sugere a continuação: o primeiro de muitos atos”, explica Rafael.
“Pensamos que os colégios em que trabalhamos desenvolvem espetáculos com muita qualidade artística, mas normalmente ficam restritos à comunidade escolar. Por esse motivo, achávamos que seria enriquecedor envolver um trabalho de troca com os dois grupos. A troca foi sugerida em vários níveis: as oficinas (como nível profissional), a integração e interação entre os alunos de realidades escolares diferentes, o debate para enriquecer a ideia da profissão, as quebras de tabus e preconceitos entre os alunos e o debate de ideias e conceitos sobre o teatro”, complementa Fabio.
No dia 30 de março, os alunos do CMC foram recebidos no teatro do Gracinha pelos alunos do professor Rafael. Durante o encontro, participaram de exercícios de aquecimento e interação com os professores. Na programação, divididos em três grupos, participaram de oficinas de leitura e interpretação com os experientes atores Ademir Emboava, Fernando Nitsch e com a atriz Janaína Suaudeau.
Para Flávia Pereira D’Angelo, aluna do 3º ano do Gracinha que usa a metáfora da bolha para exemplificar a realidade dos jovens em suas instituições, a ideia de unir os grupos foi inovadora e transformadora. “Conhecer pessoas diferentes, vindas de bolhas diferentes, nada mais é do que um meio para revolucionar tudo o que está tão enraizado na nossa sociedade. Como aluna de teatro há mais de cinco anos, não encontrei jeito melhor de exercer o que tanto pregamos no Gracinha: a diversidade e o debate”.
Para o aluno Enzo Gabriel M. Ardevino, do 3º ano do CMC, a experiência permitiu ampliar algumas de suas percepções. “Foi no contato com os alunos do Gracinha que pudemos perceber visões de mundo contrastantes, e o fato desse contraste existir revela alguma coisa. Aquilo que as pessoas falam quando saem do Colégio, que é “sair da bolha”, foi mais uma experiência saudável e libertadora”, ele relata.
Nas oficinas com o ator e professor de artes cênicas Ademir, os alunos trabalharam elementos do estudo “Campo de Visão”. Na oficina do ator e professor Fernando, os alunos trabalharam a diferença entre teatro dramático e épico por meio de depoimentos pessoais transformados em histórias narradas na terceira pessoa. Com a atriz Janaina, os alunos conheceram o método do fio vermelho, que consiste em trabalhar os objetivos dos personagens como ações, por meio do estudo de uma cena de Dom Juan de Molière.
“O fato de participar das oficinas com artistas superexperientes na área do teatro e que amam o que fazem me deixou muito animado com tudo que ainda posso viver nos palcos. A oportunidade de compartilhar momentos com atores de outra escola também foi muito interessante, especialmente quando as atividades envolviam diálogos e ações com os alunos do Miguel de Cervantes, que puderam ver como nós atuamos e vice-versa”, conclui Nuno Tibiriçá, do 2º ano do Gracinha.
Ademir Emboava foi ator da Cia Elevador por 12 anos. É Professor de interpretação no teatro-escola Célia Helena e diretor teatral. Desenvolveu, na Cia Elevador, o trabalho de pesquisa improvisacional sobre o Campo de Visão.
Fernando Nitsch é ator, diretor e dramaturgo formado pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação em 2000. Seus últimos trabalhos como diretor foram em: Kabaret K de Karl Valentin; Teatro Nosso de Cada Dia, assinando a codireção com Celso Frateschi; e Novos Velhos Dias, com texto de Reinaldo Maia.
Janaína Suaudeau é atriz e produtora. Após ter se formado em São Paulo no Célia Helena, seguiu pra França, onde estudou e trabalhou por 10 anos. Foi no Conservatório Nacional de Artes Dramáticas de Paris que ela aprendeu o método do fio vermelho, que consiste em trabalhar os objetivos dos personagens como ações.
Fotos: Tatiana Maria de Paula Silva
No sábado, 2 de abril, foi a vez do Colégio Miguel de Cervantes receber os alunos do Gracinha para o bate-papo com quatro jovens atores: Marina Meyer, estudante de Artes Cênicas na USP, Caio Horowicz, segundo ano de Artes Cênicas da USP e primeiro semestre da Escola de Artes Dramáticas da USP, Bernardo Bibancos e Pedro Henrique Meirelles, estudantes de Artes Cênicas na Escola Superior de Artes Célia Helena, todos ex-alunos do Gracinha, que conversaram sobre o ingresso na faculdade e os desafios da profissão.
Durante o encontro, os atores contaram sobre suas trajetórias, sobre a descoberta do amor pela atuação, que começou no palco do Colégio e se consolidou na escolha da profissão, e sobre os trabalhos nos quais já atuaram no teatro, cinema e televisão. No bate-papo os alunos puderam tirar as mais variadas dúvidas.
Para aluna Helena Breyton, 3º ano do Gracinha, o encontro afastou alguns de seus receios. “Muitas vezes deixamos de acreditar no que gostamos por medo. O que ouvimos na conversa com os estudantes de Artes Cênicas abriu espaço para acreditarmos nas possibilidades de escolha e em suas consequências. Ouvir as experiências deu espaço