Intercâmbio solidário na Chapada Diamantina
Uma experiência ímpar

Por: Antonio Abello Rovai | 17 de novembro de 2014.

Em outubro deste ano, oito bravos cervantinos empreenderam uma viagem pioneira com destino ao interior do país: o Vale do Capão, povoado localizado na região baiana da Chapada Diamantina, que apresenta acentuado contraste entre a riqueza de seu patrimônio natural e cultural e baixos índices de desenvolvimento humano. Muito além de uma visita turística ou de estudo do meio, como as que estão acostumados a realizar desde muito cedo no Colégio e nas quais atuam como observadores, o inusitado deste projeto foi a possibilidade de estabelecerem um intercâmbio e uma troca de experiências com a população local, por meio de atividades de caráter educativo realizadas em conjunto com os estudantes das escolas atendidas pelo Instituto Brasil Solidário, entidade proponente da viagem.

“A viagem representou a oportunidade de uma nova maneira de enxergar o mundo. As coisas que presenciamos e sentimos naquele lindo território baiano foram mais valiosas que qualquer outra coisa que eu possua. Essas memórias morrerão comigo, como parte do meu novo ser; da pessoa que eu quero ser”, avalia o aluno Alejandro Gameiro, do 2º ano do Ensino Médio. Carolina Spalding, também do 2º ano, destaca o valor do diálogo entre as diferenças e o reconhecimento de sua importância: “são universos diferentes, costumes diferentes, valores diferentes, e essa aproximação foi muito rica para ambos os lados. Para mim, o maior impacto foi, com certeza, a troca de valores, a oportunidade de conhecer pessoas que possuem tão poucos recursos, porém são tão ricas de caráter.”


Fotos: Luiz Eduardo Salvatore

Impacto e transformação

Em meio à deslumbrante paisagem natural da região, entre comunidades de origem quilombola e antigos garimpos de cristal no coração da Bahia, o gesto solidário e o olhar atento e generoso com relação ao próximo foi a tônica de uma jornada de sete dias, cujo impacto pode ser avaliado nas palavras de Daniel Winter, aluno do 3º ano do Ensino Médio e um dos viajantes: “durante a viagem, eu tive a chance de ver uma realidade que, para mim, era desconhecida; uma realidade dura e cruel, mas que contrasta com a amabilidade das pessoas que vivem ali. Uma realidade que merece ser vista, discutida e que precisa enfrentar o desafio de mudar e de se desenvolver preservando ainda as pessoas, a música, a arte, a culinária e a sua rica história. Esse sentimento de enfrentar desafios e a vontade de mudar veio junto com a bagagem que trouxe da Chapada Diamantina”.

Letícia Moutinho, também do 3º ano do Ensino Médio, relata assim o efeito transformador dessa experiência: “posso dizer que, antes dessa viagem, eu era um pouco egocêntrica, como todo paulista que anda pelas ruas, cada um em seu quadrado e olhando para o chão. Quando chegamos à Bahia, percebi que a maneira como as pessoas se relacionam era diferente: lá, as pessoas não vivem ensimesmadas, mas sim com um apego e afeto muito grandes entre uns e outros; um carinho baiano, como eles mesmos dizem. Depois dessa viagem, acho que me tornei menos egocêntrica, deixei de olhar apenas para o meu próprio umbigo e comecei a apreciar a cidade em si…”.

Viagens costumam ser oportunidades de crescimento e descoberta. Clara Teixeira, aluna do 2º ano do Ensino Médio, destaca também o autoconhecimento como um dos benefícios de viajar: “Essa viagem nos impactou de tal forma que já não podemos ver o nosso cotidiano com os mesmos olhos: nossa cidade, nosso colégio, nossos colegas e conhecidos, nossas condições socioeconômica e sociocultural. A visão do grupo agora é mais crítica e mais consciente das disparidades entre a cidade-núcleo e o sertão. Somente pondo os pés na terra e na poeira de seus caminhos é que pudemos compreender por completo a luta do Instituto Brasil Solidário por um país melhor.”

Doação de livros e sorrisos

O Instituto Brasil Solidário é também parceiro do Colégio em outras empreitadas. Nas Feiras do Livro de 2013 e deste ano, realizamos em conjunto uma campanha de arrecadação de livros para o projeto de ações de estímulo à leitura nas escolas das cidades nas quais atua o IBS.

Em dois anos de campanha, a comunidade cervantina doou quase três mil exemplares, parte dos quais foi entregue em outubro, durante a viagem dos nossos estudantes. A chegada à Escola de Caeté-Açu, onde está instalada uma das bibliotecas que receberam as doações, foi, para Beatriz Buendia, aluna do 2º ano do Ensino Médio, um dos momentos mais emocionantes. “Fomos recebidos com teatro, capoeira, abraços, sorrisos e muito carinho de todos os professores, alunos e funcionários que lá estavam. É impressionante como essas pessoas são alegres e carinhosas!”.

E, na cerimônia de entrega dos livros à biblioteca, Letícia Moutinho pôde constatar que doar faz bem a quem recebe e também a quem doa:
“o que mais me marcou foi quando entregamos as caixas com os livros arrecadados. Os livros já lidos e que normalmente teriam ficado esquecidos em algum canto da casa puderam levar imensa felicidade para as crianças que não têm tantos acessos como nós. No momento em que entregávamos as doações, o sorriso que isso gerava no rosto de cada criança era encantador…”.

Para Clara Teixeira, são precisamente esses sorrisos dados e recebidos que tornaram a viagem marcante: “cheguei à conclusão de que, no fim das contas, o que importa mesmo são os sorrisos: os das crianças, quando brincávamos com elas e respondíamos a todas as suas perguntas, ou quando nos olhavam como se tivéssemos vindo de outro planeta; os sorrisos dos jovens, quando conversáv