TECNOLOGIA EDUCACIONAL
Manifesto sobre o uso de IA na educação
Inteligência artificial (IA) na educação
Na semana passada, por ocasião do Dia Mundial da Internet Segura, o Instituto Peck de Cidadania Digital apresentou seu Manifesto sobre a Inteligência Artificial Generativa na Educação, objetivando chamar a atenção para a necessidade de debater o tema em prol da aprendizagem. Dada a sua importância e a pertinência do que propõe, o Manifesto conta com o apoio institucional do Colégio Miguel de Cervantes, bem como de outras escolas e instituições educacionais.
Da nossa parte, além de termos contribuído para a sua elaboração e de apoiado o referido Manifesto, elaboramos um documento interno que contém diretrizes para o uso da inteligência artificial generativa (IAG) no Colégio Miguel de Cervantes, cujo conteúdo cremos ser de interesse para a nossa comunidade escolar e que apresentamos resumidamente a seguir.
Frente a frente com a IA
Como qualquer avanço tecnológico, e especialmente quando se trata de tecnologias digitais, a inteligência artificial generativa traz consigo um desafio: conhecê-la, identificar seus possíveis benefícios e detectar os riscos que possa representar. No Colégio Miguel de Cervantes, aceitamos esse desafio e entendemos que não podemos evitar a necessidade de nós, professores e alunos, nos prepararmos para enfrentá-la, aprender sobre e com ela.
Princípios éticos e integridade acadêmica
O recurso propiciado pela IA na obtenção de respostas fáceis pode ser um atalho muito sedutor e o aluno pode se sentir tentado a obter melhores resultados acadêmicos de forma indevida. Para minimizar esse risco, a escola deve reforçar seu papel no que diz respeito à educação em valores e em princípios éticos, além de promover a valorização das conquistas dos alunos obtidas mediante o esforço legítimo em sua aprendizagem. Para isso, o professor deve orientar e ajudar seus alunos a usar a IA de forma ética e em observância aos princípios de integridade acadêmica. O aluno, por sua vez, deve saber valorizar a oportunidade de desenvolver suas habilidades e competências cognitivas sem delegar a condução desse processo a um algoritmo1, aprendendo a aprender e tendo o controle autônomo e autorregulado de sua própria aprendizagem. Além disso, o aluno deve conhecer, refletir e aplicar as regras sobre direitos de autoria, citar corretamente as fontes de referência e não cometer plágio; a informação obtida por meio da IA deve estar apropriadamente acreditada no texto e corretamente referenciada na bibliografia.2
Qualidade e confiabilidade da informação obtida nas plataformas de IAG
As IAGs disponíveis, como ChatGPT, Bard Google, entre outras, são modelos de linguagem que analisam grandes quantidades de texto disponível na internet e identificam padrões de conexão entre palavras, números e símbolos para gerar novos textos em linguagem natural. Por esse motivo, a informação obtida pode ser imprecisa e conter vieses de gênero, etnia, credo ou matiz ideológico,3 o que exige redobrada atenção e uma verificação rigorosa da exatidão e do sentido comum de cada palavra e frase de saída.3 O usuário, seja professor ou aluno, deve assumir toda a responsabilidade (legal, moral etc.) pelas imprecisões que vier a reproduzir por meio das respostas da IA generativa.4
Referências para o uso da IAG na educação
O uso da IAG deve estar contextualizado naquilo que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define como competências para o ensino básico: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. (BNCC, 2018)5. Além disso, e tal como propõe a UNESCO6 como objetivo no que se refere à Alfabetização Midiática e Informacional, a escola deve desenvolver as competências necessárias para identificar e detectar a desinformação e seus riscos. Ademais, tal como nos alerta o Conselho de Europa7, a generalização do uso da IA na educação poderia levar a uma degradação do que se ensina e do que se avalia, dando preferência à transferência de conhecimentos e às competências facilmente quantificáveis em detrimento dos valores mais humanistas e variáveis, como a aprendizagem que afirma o valor e a dignidade humana, a razão, a compaixão, a moralidade, a ética, a democracia e a indagação.
Aspectos metodológicos
Tal como ocorre com qualquer recurso tecnológico, o uso de IAG nas aulas requer um novo enfoque voltado a metodologias ativas, nas quais o aluno atue como protagonista, e que incluam a indagação, debates, conversas reflexivas, resolução de problemas originais e trabalho colaborativo, entre outros métodos. Nas aulas, o uso da IA generativa (ChatGPT, Bard Google, etc.) deve ser evitado, exceto em situações nas quais esse recurso possa ser uma estratégia de apoio para que, sob a supervisão do
professor, o aluno construa seu conhecimento e desenvolva o pensamento crítico para resolver problemas de maneira criativa, não para obter respostas rápidas e/ou fáceis.