Palestra com Mabel Mendoza
Sala de imprensa do Congresso acompanhou o evento
Por: Tatiana Maria de Paula Silva |15 de setembro de 2015
Em razão dos trabalhos referentes à Hispanidad, que este ano celebra o IV Centenário da 2ª parte da obra prima de Miguel de Cervantes, a professora catedrática de Língua e Literatura Espanhola, Mabel Mendoza, veio ao Colégio Miguel de Cervantes para conversar com os professores e alunos sobre a obra Don Quijote de La Mancha.
No encontro com os professores, no dia 19 de agosto, acompanhada do professor e chefe de estudos, Juan Rivero, a professora apresentou e descreveu a estrutura geral da obra que contempla, dentre diversos componentes literários, a paródia sobre as novelas de cavalaria da época.
Na sequência, o professor Juan falou sobre as diversas edições e interpretações da obra, ressaltando que, para se aproximar da intencionalidade do autor, é necessário conhecer e compreender a realidade e o contexto histórico do momento em que a obra foi escrita.
Os alunos da Sala de Imprensa da Hispanidad participaram da palestra e entrevistaram a catedrática.
Mabel Mendoza fala sobre Dom Quixote
Alunos do 3º ano do Ensino Médio participaram da palestra em busca de conhecer mais sobre o grande clássico Dom Quixote.
Por: Cibele Mariela Nielsen Arias e Isabela Petroni Agra |14 de setembro de 2015
A professora Mabel mostrou em sua palestra os pontos em que a obra de Dom Quixote faz uma parodia às novelas de cavalaria. As histórias de cavalaria se iniciam descrevendo lugares irreais e estranhos. No entanto, a palestrante comenta que em Quixote os lugares descritos eram muito semelhantes com os já conhecidos até então na Europa.
Mabel explica que os cavaleiros tinham dois ofícios: a guerra e a caça. Entretanto, em Quixote esses elementos são satíricos devido aos instrumentos de guerra, como armas e cavalos, se encontrarem em péssimas condições. A palestrante apontou que Dom Quixote é uma figura que rompe com o ideal dos cavaleiros medievais das novelas de cavalaria também devido à idade do protagonista, pois os cavaleiros eram jovens, ao contrário de Dom Quixote, que tinha cerca de 50 anos. Seu nome também acentua a ironia, o grande "quij" representa a grandiosidade e a idealização, que logo é quebrada pelo o sufixo aumentativo depreciativo "ote".
A comicidade no amor também não deixa a desejar. A dama Dulcineia também é parodiada, já que o seu nome descreve uma mulher doce e delicada, o que cumpre com os ideais de beleza da época. Apesar disso, essa idealização não representa a verdadeira dama, pois ela, na verdade, é uma camponesa.
Em contrapartida, Mabel explica que Sancho Panza pode ser considerada a personagem menos satirizada, devido à sua função de representar a realidade.
Fotos: Silvio Luiz Canella
Entrevista com a catedrática
Por: Ana Maria Perez do Amaral, Cibele Mariela Nielsen Arias, Isabela Petroni Agra, e Yago Ribeiro Labate | 21 de agosto de 2015
Mabel Mendoza, professora e escritora argentina, depois de licenciada no país de origem, foi à Espanha para dar aulas em academias de preparo para professores e no Ensino Fundamental. Viveu na Colômbia por seis anos e depois voltou à Argentina. Em agosto, Mabel deu uma palestra sobre a paródia na obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Após a palestra, disponibilizou-se para dar uma pequena entrevista para os alunos da Sala de Imprensa do Congresso da Hispanidad 2015 em relação à obra.
De acordo com algumas paródias que você disse estarem presentes na obra por necessidades pragmáticas, como o fato de o personagem ter um cavalo fraco e velho ou de ele próprio ser velho e fraco, você acredita que seria possível dizer que Dom Quixote é um anti-herói?
Se dito em termos atuais, acredito que ele provavelmente seria considerado um anti-herói. Contudo, teríamos que esperar até os anos 60 ou 70 para que o anti-herói surgisse.
Em uma palestra com o professor Juan, há algum tempo, foi dito que um dos precursores de Cervantes poderia ter sido Machado de Assis. Qual é a sua opinião sobre isso?
Não posso te responder porque, sinceramente, nunca li Machado de Assis.
E a que outro autor latino-americano você acredita ser possível comparar Cervantes?
Posterior à influência de Cervantes foram muitos, como García Marques. Toda essa ideia da mistura entre a realidade e a ficção, presente na obra de Cervantes, teve grande influência nos autores da América Latina. Nomeio-te um deles agora, mas não se esqueça de que esta característica de não diferenciar realidade e ficção, que é própria do Barroco, foi um dos aspectos que fundamentou a literatura na América Latina, portanto, se constituiu em um elemento fundamental de toda a literatura latino-americana.
Essa é uma característica que também aparece muito na arte, como nas obras de Salvador Dalí, por exemplo, não é?
Sim, mas aí já entra outro elemento de toda a interpretação surrealista, que é basicamente a irracionalidade. Porém, em toda a América Latina, essa combinação de ambos aspectos (realidade e ficção) está presente. Na literatura, em A Harpa e a Sombra, por exemplo, obra na qual Colombo fala que está morto, mas age como vivo e tem uma relação com o mundo atual; em Pedro Páramo, novela na qual os mortos intercalam com os vivos e os mortos vivem uma vida paralela. A influência de Quixote foi grande, até porque as novelas de cavaleiros tiveram grande influência, estão na raiz da literatura latino americana, é o substrato, já que para explicar a literatura latino-americana, há que enxergar por um lado a influência indígena, a contribuição dos negros, a influência espanhola, mais tarde a europeia e depois todas as demais culturas que foram influenciando a literatura, que é mestiça.
Você disse que Sancho é a personagem menos parodiada da obra e que os diálogos entre Sancho e Dom Quixote são as partes mais importantes da personagem. Como você acredita que estes diálogos fazem com que a história seja mais cômica?