Hispanidad 2016
Espanha e Iberoamérica: Um caminho de ida e volta

No âmbito da educação para a cidadania mundial o tema selecionado para essa Festa da Hispanidad foi das migrações econômicas, políticas e culturais que tiveram lugar entre ambos territórios durante os séculos XIX, XX e XXI.

Nos estandes da festa os trabalhos dos alunos retrataram os principais aspectos desse intercâmbio cultural. Desde a gastronomia, canções típicas, tecnologia e questões atuais da imigração e dos refugiados pelo mundo, as exposições com representações artísticas e interativas proporcionaram um grande complexo de pesquisa e conhecimento que emocionou a todos.

A programação também contou com a exposição de fotografias “Memoria gráfica de la emigración española” e o projeto audiovisual “Doce pinturas negras de Goya” do artista Ángel Haro, que estarão no Colégio até dia 7 de outubro.


Fotos: Rafael Campagnolli

Educação Infantil e Ensino Fundamental I
O legado, herança cultural, tradição e atualidade

Os alunos da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental apresentaram o estudo sobre a trajetória dos alimentos entre os continentes, representando as origens, curiosidades e a adaptação à gastronomia e produção local de alimentos como o café, o trigo, o cacau, o feijão e outros. Por meio de QR Codes espalhados no estande o público teve acesso à pesquisa aprofundada de cada alimento. Na apresentação musical os alunos cantaram e recitaram em espanhol composições e poesias relacionadas ao tema.

Os alunos do 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, por meio da investigação de suas origens contaram as influências da imigração em nosso país. Nos estandes decorados por malas, produzidas por eles, foi possível conhecer um pouco sobre a história familiar de cada um. Em vídeos, os relatos das famílias, com descendência ou estrangeiras, emocionaram a todos e demonstraram as motivações para a emigração através dos tempos. Penduradas em galhos o público pode ver as árvores genealógicas construídas em sala de aula. Em referência às instalações visitadas no museu do imigrante, as paredes dos estandes receberam os sobrenomes dos alunos. Para homenagear e ressaltar o trabalho desenvolvido foi apresentada uma oficina de palmas e canções tradicionais espanholas com a participação especial da cantora espanhola Irene Atienza e do guitarrista de música flamenca, Flávio Rodrigues.

No teatro, grupo Sueños de Dança espanhola e do Cervantes Solidário trouxeram ao palco números que representam a beleza e a tradição da dança como fenômeno cultural mundial e difusor da cultura espanhola.

Para discutir e comparar as soluções de mobilidade urbana e sustentabilidade nas principais capitais do Brasil e da Espanha, os alunos dos 4º e 5ºs anos pesquisaram a fundo a evolução tecnológica das malhas metroviárias e do transporte público em ambos os países e as políticas de coleta seletiva e descarte de resíduos. No palco apresentaram canções que abordaram os temas, destacando o bem-estar pessoal e coletivo e convocando à reflexão para a construção de uma sociedade comprometida com o planeta. A plateia contou com a ilustre presença do cônsul da embaixada da Espanha em São Paulo Ilmo. Ricardo Martínez Vázquez, que veio prestigiar a festa do Colégio.

O estande do 4º ano, com o tema “La ciudad que tenemos y la que queremos: un sueño posible” convocou o público a calcular sua pegada ecológica, mostrou modelos de coleta de resíduos eficientes e apresentou uma fotonovela abordando questões de sustentabilidade. No estande também foi possível conhecer a história do Grupo Gestor de Sustentabilidade do Colégio. O 5º ano convidou todos a refletirem sobre a melhoria do transporte público como alternativa para os problemas de mobilidade urbana e mostrou curiosidades, atualidades sobre transporte nas cidades de Madri e Barcelona, na Espanha e São Paulo e Rio de Janeiro no Brasil.

Os departamentos de Língua Espanhola e Tecnologia educacional prepararam um app de jogo interativo de busca ao tesouro, por meio de desafios de conhecimento geral, que ao final, conferia aos jogadores o título de cidadão do mundo hispânico.

Ensino Fundamental II
Memória, cultura de paz e cidadania

No 1º cluster com uma programação rica e diversificada os alunos do 6º e 7º anos desenvolveram oficinas e apresentações envolvendo cidadania global, arte e memória em trabalhos interdisciplinares com salas temáticas, que reproduziram galeria de arte, museu de memória (em referência ao museu do imigrante visitado pelos alunos do 6º ano), palco de performance, sala sensorial e estação de reciclagem.

Por meio de pesquisas e expressões artísticas os alunos produziram materiais relacionados à cultura de paz com enfoque em personalidades mundiais e mostraram os horrores da guerra na sala sensorial “O mundo diante do caos da Guerra”.

Para homenagear importantes personagens da literatura e da arte como Drummond, Lorca, Dalí e Gaudí os alunos produziram e desenvolveram trabalhos biográficos destacando suas principais obras e legado para a humanidade.

Em um tributo à memória os alunos trouxeram relatos e recordações do início da imigração espanhola no Brasil e sobre a atualidade apresentaram um estudo sobre a imigração e os refugiados hispânicos nos Estados Unidos da América.

Para chamar atenção para o atual problema do descarte de plástico e a formação de uma grande massa de lixo de aproximadamente 680 mil Km2, que assombra o oceano pacífico e não para de crescer, os alunos montaram uma estação de reciclagem e apresentaram soluções cotidianas para reutilização de objetos plásticos.

No palco do teatro os alunos trouxeram o emocionante espetáculo trilíngue, Português, Espanhol e Inglês “Tributo a la Paz” que ressaltou a história de grandes nomes de ativistas e personalidades mundiais da cultura de paz como Malala Yousafzai, Daniel Barenboim, Vicente Ferrer e Rigoberta Manchú e os problemas dos imigrantes e refugiados latinos nos Estados Unidos.

O primeiro andar do prédio do 2º ciclo do Fundamental e do Ensino Médio foi transformado, pelos 8º e 9º anos, em uma instalação para todos os sentidos. Em meio às projeções e sons o público foi sensibilizado aos horrores dos conflitos que obrigam contingentes a fugiram de seus países de origem e buscarem asilo em terras desconhecidas, longe de suas raízes, da família e da sua identidade cultural.

Na penumbra, o mapa mundí montado destacava com luzes as principais rotas dos refugiados entre os séculos XIX e XXI. Nos armários dos alunos foram montadas pequenas instalações, que surpreendiam o público atrás de cada porta, com histórias contadas por meio de vídeos e objetos pessoais daqueles que deixaram seus países e buscaram a esperança em terras desconhecidas.

Em grandes painéis os alunos mostraram a história de artistas e personalidades mundiais que sofreram o exílio, foram perseguidos ou mortos por conflitos étnicos ou políticos. Em cada cartaz um fragmento da eterna poesia de Pablo Neruda “O Exílio” acompanhava a história daqueles que lutaram ou que se tornaram símbolos do que a intolerância e a repressão podem causar em uma sociedade, suprimindo do convívio de todos mentes geniais e criativas.

No recorte específico da guerra Civil espanhola, os alunos pesquisaram os impactos sociais da época como a instabilidade financeira e civil do país, que motivaram o grande movimento emigratório de espanhóis entre os anos de 1936 e 1939. Para contar um pouco dessa história, os alunos produziram gráficos, com materiais alternativos, relacionados a tema.

A oficina de epidemias, realizada pelos alunos do 8º ano, apresentou o mapeamento dos vírus ao redor mundo e de sua difusão por meio das imigrações. Os trabalhos demonstravam as origens, sintomas, mortalidade, mutações e os esforços mundiais para tratamentos, produção de vacinas e erradicação das doenças.

A sala “Mar de sensaciones” montadas pelos alunos do 9º ano realizou um exercício de empatia por meio da instalação de um corredor que provocava nos visitantes as sensações de opressão e medo de um refugiado de guerra até a chegada a um local que o acolhe. Nos corredores fotos impactantes, odores sufocantes, escuridão e sons demonstravam o clima de incerteza dos que são obrigados a fugir até o corredor do acolhimento representando a oportunidade do recomeço.

Ainda no primeiro andar, a exposição “Doze pinturas negras de Goya” do artista Ángel Haro contribuiu para a atmosfera impactante de toda a instalação idealizada e produzida pela orientação pedagógica, professores e alunos do 4º ciclo.

Palestra Imigrantes e refugiados
Com Joaquín Ramirez de Vicente e Karl Albert Diniz de Souza

Para encerrar as atuações da programação da Hispanidad 2016 o Colégio recebeu o Sr. Joaquín Ramirez de Vicente, imigrante espanhol e Karl Albert Diniz de Souza coordenador do Centro de Direitos Humanos da Universidade São Judas.

Joaquim, natural de Santander na Espanha, avô de ex-alunos do Colégio, falou sobre sua história e impressão quando em 1954 chegou ao Brasil, para fugir da guerra. Em um emocionado depoimento Joaquim contou sobre a perdas de familiares perseguidos pelo sistema da época e da dor em deixar seu país.

Ele detalhou sua adaptação à nova casa, ao idioma e à cultura. Carpinteiro, falou sobre seus primeiros trabalhos, sobre as oportunidades que teve em progredir no Brasil e na importância das amizades e do apoio das pessoas que encontrou por aqui. A fascinante história de Joaquim pode ser conhecida no livro El Buquín (abuelo Joaquín), da editora Zácara, escrito por Oscar Nestarez com a ajuda do neto Guilherme Ramirez Coelho, ex-aluno do Colégio Miguel de Cervantes.

O especialista em direitos humanos, Karl Albert Diniz de Souza, falou sobre a importância da educação desde a infância para o desenvolvimento da tolerância, da solidariedade e da paz. “É importante ensinar que o imigrante não é um inimigo, mas sim alguém com quem eu possa conviver”, afirma Karl.

Ele explica que o trabalho dos direitos humanos é mostrar que existe espaço para o convívio e criticou a política internacional dos países que reverenciam uma cultura de segregação ao estrangeiro.

Karl acredita que atualmente os brasileiros têm melhor condição ideológica de encontrar soluções humanitárias para as imigrações do que os países europeus, principalmente após a questão dos refugiados da Síria e o retrocesso da política da livre circulação de pessoas dentro da comunidade europeia revelando um cenário que pode a curto prazo desenvolver novamente a ideologia xenofóbica tão evidenciada antes da II Guerra Mundial. Ele compara a educação para a cidadania e tolerância como a educação para hábitos cotidianos que precisa ser continuada e perseverante.

No encerramento os alunos do 8º e 9º ano apresentaram uma performance musical interpretando a música Imagine de John Lennon.

A cobertura completa do evento realizada pela Sala de Imprensa dos alunos do Programa de Escrita Avançada pode ser acessada no site www.cmc.com.br/hispanidad .

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